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Os gatos

Em menos de seis meses, passei de 0 a 6 gatos.


Meu pai faleceu em março de 2021, numa época tenebrosa em que mais de três mil brasileiros morriam por COVID. Infelizmente, meu pai foi deles.


No aniversário de um ano da morte de meu pai, me deparei com ele, um gato amarelo: Antônio. Antônio pulou em mim como se sempre tivéssemos nos conhecido. É o que chamo de encontro. E, sem nem pensar duas vezes, peguei e levei pra casa. Só que, na época, eu tinha uma santa cachorrinha idosa, Smoking.


E, enquanto Antônio era perdidamente apaixonado por Smoking, podemos dizer que o amor não era recíproco... E não porque ela não gostasse dele, mas é que a energia de um gato filhote não se mistura muito bem com a energia de uma poodle idosa cardiopata grave.


Assim que toda semana estávamos internando Smoking porque Antônio, ao brincar com ela, quase a matava. E, um dia, olhando na internet, me deparei com um frajola lindo e gordo, Valentim e fiquei perdidamente apaixonada por ele. Disse: "mãe, vamos adotar!" E é óbvio que ela disse que não.


Até que Smoking internou de novo. E então, a veterinária falou “é, Dolores, vou dizer algo que a senhora não vai gostar muito, mas o único jeito seria arrumar outro gato”.


Naquele dia, quando fomos buscar Smoking, encontramos com três garotas que prestaram socorro a uma gata atropelada. Uma delas, olhou pra gente e perguntou: “alguém quer um gato? Eu tenho um pra adoção”. E por obra do destino, era a pessoa que estava dando lar temporário para o Valentim...



Muito mágico, né? A gente era pra ter se encontrado. Como diz doutora Ana, salvadora da Smoking e ponte para meu encontro com ValVal, “gatos acontecem...”. E Valentim aconteceu.


Se querem um conselho: saiam da internet. Pois foi nela que meu coração saltou quando vi Nicolau e pensei “é o Nicolau”. Na época, o nome dele era Sushi e iniciei uma campanha para adotá-lo, mas só contei com apoio da minha irmã. Minha mãe já estava resignada com o número da família aumentando.


Até que ela viajou e enfiei o gato dentro de casa. Em minha defesa, na época, foi anunciado que ele ia pra colônia... Eu não podia deixar, era meu filho! Então, enquanto ia para o hospital por um entorse e morrendo de dor, utilizei todas minhas energias para preencher o formulário de adoção do Nicolau enquanto outra pessoa também demonstrava interesse. Eu nunca na vida falei tanto, mas, eu tinha certeza de que Nicolau era para mim.


E foi.


Se passaram algumas semanas e tudo estava muito calmo. Minha vida estava ótima. Três gatos, uma cachorra. Até exercício físico estava fazendo. E, foi chegando cansada da ginástica que recebi a mensagem daquela moça que estava com o Valentim, lembra? Era uma foto de um gato na janela. Respirei fundo, peguei uma caixa de transporte e respondi que poderia dar Lar Temporário.


Ela me disse que ele tinha outro irmão e que o levaria para minha casa no dia seguinte.


Ela chegou com mais três.


E foi assim que chegaram mais quatro gatos em casa. Conseguimos, de fato, adotar uma. Mas os outros três, bem, eu mudei de Estado e eles vieram comigo. Então, com a trabalheira que foi, acabamos ficando uma grande família.


Todo mundo sabe que LT é golpe.


Meu sonho de vida era ter somente um gato preto, e tive seis bicolores. Quando cheguei no Sul, encontrei meu gato preto, mas, infelizmente, ele não resistiu. Foi um momento muito duro pra mim, era a realização de um sonho. Mas, enquanto esteve do meu lado, Bento foi muito amado.


Desde então, minha vida é uma grande montanha russa, foi gato com suspeita de pif, foram gatos com suspeita de felv, gatos com doença inflamatória intestinal crônica, gatos com doenças renais, fraturas de fêmur, cirurgias.... Infinitas trocas de rações, é gato que come fita do senhor do bonfim, que come pena com corante, que foge do terceiro andar de um apartamento telado, que sapateia no solvente...


São histórias que beiram o absurdo da vida, o cômico. E todas elas falam sobre eles, sobre mim e sobre a gente. Quando fico um pouco perdida, olho para eles e nossa relação me relembro de quem sou.


Dizem que seus animais puxam seus tutores, e, se tem uma coisa que une a gente é: que a gente tem humor e sabe viver.

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Prazer, a humana.

Olá, meu nome é Marcela Figueiredo, sou artista, autista, psicóloga e arteterapeuta responsável por uma linda - e enorme - família multiespécie. Seja bem-vinde ao nosso mundo.
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